quarta-feira, 25 de junho de 2014

Uma tarde em Manhattan


Alguns leitores do blog que não são aeronautas me pedem para escrever um pouco sobre a vida de tripulante. Muita gente não sabe, mas, antes de começarmos a voar temos que passar por muitas horas de treinamento em solo, provas práticas e escritas e, só depois de aprovados "teoricamente" é que podemos começar nosso treinamento em voo. E todo ano o treinamento teórico se repete, e precisamos ficar horas estudando e sendo avaliados para continuarmos voando. Então, sempre que começamos a voar um "modelo" de aeronave diferente, ou em uma classe diferente dentro da aeronave, temos instrução em voo, onde um comissário fica responsável por dar instruções ao outro. Geralmente dura um mês e os dois tripulantes ficam com "escala casada", fazendo os mesmos voos juntos.


Nesses nove anos de voo já tive muitas instrutoras que me influenciaram diretamente na minha maneira de trabalhar e que tenho grande carinho por elas. Mas pela primeira vez, em junho de 2014, tive uma comissária aluna! Sim, dessa vez eu que fui a instrutora. A comissária Luciana também voa há muitos anos mas começou a voar o Boeing777 agora. Nosso primeiro voo juntas foi com destino ao aeroporto JFK em Nova York. Após 9h de voo e muitas instruções era hora de começar outra instrução, também muito importante: como aproveitar o tempo livre para passear! Como era a primeira vez de Luciana na cidade mais cosmopolita do mundo, não podia deixar de levá-la em alguns dos principais pontos turísticos e ensiná-la como se virar por lá! Ainda tivemos a companhia de mais três colegas: o André, a Tassiana e a Mariza.



O hotel que a companhia aérea disponibiliza para ficarmos hospedados fica em Long Island, cerca de 50 minutos de trem até Manhattan. É preciso saber alguns detalhes ao comprar o ticket do LIRR (Long Island Rail Road): os preços são diferenciados para horários de pico e o destino final é a Penn Station, que fica na rua 34 esquina com a Sétima Avenida.

Chegando na Penn Station, começamos de vez nosso passeio e enquanto eu explicava a Luciana que todas as ruas e avenidas seguem a ordem numérica, já nos deparamos o estonteante Empire Estate Building e seus 443 metros de altura que o tornou o prédio mais alto do mundo até 1970.


 Com uma temperatura de 27 graus e um dia lindo, resolvemos fazer uma caminhada até o High Line Park, um parque público, construído em uma antiga linha de trem elevada que passa por cima de várias ruas do lado oeste de Manhattan.

 O parque acompanha a 10ª e 11ª avenidas. Subimos nele na rua 23 e caminhamos oito quarterões para sul, curtindo a vista da cidade por esse ângulo tão inusitado.

Às vezes a vista era só prédios, às vezes aparecia o rio Hudson, em alguns pontos via-se a Estátua da Liberdade bem longe e pequena com sua tocha na mão!
 
Para refrescar, uma parte do parque tinha água corrente no chão e eu não resisti, tirei os sapatos e foi super refrescante. 


Eu, Tassiana, Luciana, Mariza  e André morrendo de calor no High Line

Eu e minha aluna Luciana, sem sapatos e com rio Hudson ao fundo
Continuando o passeio, próxima parada: Chelsea Market, que fica na esquina da rua 15 com a 10ª Avenida. O Chelsea Market  é um dos mercados fechados mais tradicionais do mundo, e vende de tudo: sopa, grãos, vinhos, queijos, artesanatos e roupas. Escolhemos um restaurante italiano chamado Rana para almoçarmos e todo mundo gostou muito!

Restaurante Rana, no Chelsea Market
Depois do almoço, pegamos o trem para a parte mais ao sul da ilha de Manhattan: South Ferry. Expliquei pra Luciana que o metrô de Nova York é um dos mais fáceis do mundo porque quando se quer ir em direção ao sul, é só pegar sentido downtown, e para ir para o norte, uptown. 

Chegamos no Battery Park, bem ao sul da ilha e fizemos um passeio incrível e gratuito. Pegamos a Staten Island Ferry, uma balsa que transporta, gratuitamente, cerca de 60.000 passageiros por dia entre Manhattan e Staten Island, um outro distrito de Nova York. 


A vantagem de "passear" nessa balsa é desfrutar o belíssimo visual de Manhattan e da Estátua da Liberdade sem precisar pagar nenhum dólar por isso. 


Na volta descobrimos o melhor lugar para ficar na balsa: no subsolo, bem na frente... nada obstrui a vista!


De volta a Manhattan, o tempo já não era mais o mesmo, uma forte tempestade estava chegando... Passeamos pelo distrito financeiro e não poderíamos deixar de tirar foto com o famoso touro de Wall Street! Essa escultura foi feita pelo italiano Arturo de Modica, como símbolo da virilidade e da coragem, necessários para superar a crise da bolsa de Nova York em 1986.


Touro de Wall Street


Já que estávamos por ali, não poderíamos deixar de ir ao Memorial do 11 de Setembro. No lugar onde ficavam as torres gêmeas, foi construído um memorial e museu. Não havia mais ingressos disponíveis para visitar o museu naquele dia. O site indicava que seria gratuito nas terças após as 17h, mas isso não aconteceu...

Memorial 11/09: local onde ficava uma das torres

No meio da energia forte desse local, símbolo de terrorismo e tragédia, a tempestade nos pegou. Saímos correndo e nos abrigamos na melhor loja de departamento do mundo: a Century 21! 

Algumas comprinhas depois e a chuva ainda não tinha ido embora. Pegamos o metrô para uptown e fomos até a Times Square. Praça mais famosa e movimentada da cidade, cercada de letreiros luminosos por todos os lados!


Cansados e molhados, só nos restava passar em um lugar entes de ir embora: a padaria do Cake Boss.


Cake Boss é um reality show do canal TLC, que mostra o dia-a-dia da Carlos´s Bakery, uma padaria que fica New Jersey e é famosa por fazer bolos esculturais. Essa não é a padaria oficial, é apenas um café com bolos esculturais e suvenirs do famoso programa de televisão. 

Comi um canoli tower, uma espécie de "canudinho recheado" que comemos muito em Minas. Esse era mais bonito do que gostoso, muito muito doce. 

Enfim, era hora de voltar pro hotel. Cansados e com calos nos pés pegamos o trem às 20:42 de volta para Long Island, para dormirmos e voarmos pro Brasil na manhã seguinte.

Dedico esse post à minha aluna Luciana e às grandes instrutoras que tive nesses anos de aviação.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Lago de Orta



Existem lugares no mundo que são joias escondidas. Lugares incríveis que poucas pessoas conhecem. O lago de Orta, no norte da Itália, é um desses lugares. Pesquisando no google sobre os lagos italianos, há muita informação sobre os famosos lagos Maggiore, de Como, de Garda, de Iseo... mas pouco se fala sobre a joia turística que é o lago de Orta.




Localizado aos pés dos Alpes, entre o Monte Rosa e o Mottarone, o lago de Orta é muito pequeno em relação aos demais. Possui apenas 33km de perímetro. Aproveitei um voo que fiz para Milão, no final de maio de 2014, para conhecer esse lugar incrível.


Um parênteses: O Hotel Atlantic (onde a tripulação fica hospedada), em Arona, oferece carro para aluguel somente para quem tem carteira de motorista  internacional. Por R$137, o Detran emite a PID (permissão internacional para dirigir) com validade igual a da carteira de motorista brasileira. A solicitação é pelo site e chega pelos correios em menos de uma semana. Vale a pena.


Com o carro alugado no hotel, eu e minha colega Juliana chegamos no Lago de Orta em 30 minutos. Fomos direto para a cidade principal: Orta San Giulio. O nome da cidade vem dos irmãos gregos Giulio e Giuliano que trouxeram o crisitianismo para a região, no século IV.


É preciso estacionar o carro fora da cidade pois todo o centro histórico é zona exclusiva de pedestre. Descobri que o lago de Orta é desconhecido apenas pelos brasileiros pois a cidade estava cheia de turistas europeus, principalmente franceses, suíços e alemães. Como de praxe, fui ao centro de informações turísticas pedir indicações dos melhores lugares para se conhecer em pouco tempo:
















Praça Motta: é a praça principal da cidade, onde acontece a feira semanal desde o século XV. O edifício de destaque da praça é o Palazzo della Comuità, onde acontecia o Conselho da Riviera, em que a comunidade do lago se reunia, no século XI, para elaborar suas leis. 
A praça fica às margens do lago e é de lá que sai as embarcações para a charmosa Ilha San Giulio.


Palazzo della Comunità











Ilha de San Giulio: a 400m de Orta e com um perímetro de 650m, a pequena ilha é um lugar de descanso e reflexão. Um mosteiro beneditino ocupa grande parte da ilha e não é permitida a visitação. Há um caminho que circunda toda a ilha, a Via del Silenzio, caminho a ser feito em silêncio, admirando a paisagem, ouvindo o vento e refletindo... outro ponto turístico da ilha é a Basílica de San Giulio, fundada pelo santo no ano de 390dC. O prédio atual da basílica passou por várias reformas ao longo dos séculos e é composta de numerosos afrescos e esculturas dos séculos XV, XVI e XVII e um altar de mármore. Na cripta, estão os ossos de San Giulio.

Barco para a Ilha San Giulio

Interior da Basílica San Giulio

Vista do mosteiro e da torre da basílica

Placas na Via del silenzio, incentivando a reflexão


Pegamos o barco de volta à Orta e passeamos pela Via Giuseppe Fava, um belo caminho na beira do lago.


Em seguida, visitamos a Igreja Santa Maria Assunta, que foi construída no final da Idade Média (1485) para celebrar os sobreviventes da peste negra.

Igreja Santa aria Assunta

interior da igreja

Sacro Monte di São Francisco: tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade, é um lugar de muita paz e oração. Situado em uma magnífica posição panorâmica sobre o lago, o Sacro Monte de Orta é um percurso de devoção, constituído de vinte capelas com afrescos e estátuas de tamanho real, que ilustram a vida de São Francisco de Assis. Cada capela representa uma cena da vida do santo. Os trabalhos de construção desse impressionante complexo religioso iniciaram-se em 1590 e duraram mais de um século.

Capelas dedicadas a São Francisco de Assis

Interior de uma das capelas


Interior de uma das 20 capelas








Juliana e eu, selfie com visual incrível































O parque é lindo, repleto de paz e tranquilidade. É possível sentir a energia do lugar e refletir sobre a vida de São Francisco de Assis. O Sacro Monti fica em no alto da cidade de Orta, é possível chegar lá a pé ou de carro. O problema de ir de carro é que o estacionamento dá acesso à capela 17,18 e ficamos meio perdidas até encontrar a capela 1 para fazermos toso o percurso de devoção.

Com o corpo cansado de tanta caminhada e a alma renovada nesse lugar tão abençoado, percebemos que era hora de voltar. Passamos em Stresa para almoçar e voltamos para nosso hotel, que um voo de 12 horas de volta para São Paulo nos aguardava.

Paz, tranquilidade e uma vista incrível no Sacro Monte












O lindo dia e a temperatura agradável da primavera italiana tornou nosso passeio ainda mais incrível. Sugiro a todos que pretendem visitar a Itália que incluam esse lago nos seus roteiros pelo norte do país.


Gastos totais do passeio por pessoa:

Aluguel do carro: 15 euros

Combustível: 5 euros

Estacionamento: 2euros

Barco: 4,50 euros

Total: 26,50 euros